quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sistema Voluntário de Ordenha ... o que diz a pesquisa a respeito


O Sistema Voluntário de Ordenha (do inglês: VMS -  Voluntary Milking System) tem esse nome porque são as vacas que escolhem qual  a frequência e melhor horário para a ordenha.

Funciona da seguinte forma: o animal entra em uma estrutura parecida com um tronco de contenção, então um braço robô usa câmeras ópticas e lasers para localizar o teto e fazer a limpeza, ordenha e pós-dipping.

Sistema Voluntário de Ordenha em funcionamento


Cada animal é identificado através de um sensor de presença que vai registrar em um computador todos os dados da ordenha. Segundo os fabricantes o equipamento consta inclusive com um medidor de leite para cada teto que mede separadamente o tempo, fluxo e produção. 



A VMS também faz uma checagem da qualidade do leite e caso alguma anormalidade seja encontrada há um desvio automático.

Para que a ordenha seja feita de forma higiênica esse sistema ainda possui um coletor de esterco integrado e um sistema para limpeza do piso, fazendo assim que os animais permaneçam sempre em um ambiente limpo.

E tudo isso sem que seja necessária a presença de uma pessoa no processo.  

Parece um sonho não é?!
Mas tem se tornado uma realidade cada vez mais presente da cadeia leiteira mundial.

A idéia de se contruir uma ordenha como essa não é nova não, ela surgiu na Holanda na década de 1980 . No entanto, somente em 1992 (isso mesmo 92!!!) o primeiro sistema de ordenha automática foi introduzido em rebanhos comerciais e desde então o número de fazendas que usam esse tipo de ordenha só aumenta, principalmente em países desenvolvidos da Europa e América do Norte. 
No Brasil a Ordenha Voluntária chegou somente esse ano, em uma fazenda leiteira de Castro - PR.

A figura a seguir mostra o fluxograma do sistema VMS (também conhecido como AMS "Automatic Milking System") segundo Hopster, et al (2002)

Cubicle: Baia; Waiting area: Área de espera; AMS: Automatic Milking System; Feeding Area: área de alimentação; Rest of Bran: Restante do curral; Water: Água


Mas o que diz a pesquisa sobre esse sistema?


Segundo Hogeveen et al. (2004) são 5 os motivos mais comuns que fazem com que um produtor opte pela VMS:
  1. Redução de mão de obra (sem hífen segundo a nova ortografia hehe).
  2. Maior flexibilidade.
  3. Possibilidade de realizar mais que 2 ordenhas diárias.
  4. Redução no número de empregados.
  5. Necessidade de se adquirir um novo equipamento de ordenha.
Sendo a redução de mão de obra, com certeza, a mais expressiva, uma vez que o custo da produção de leite está muito ligado a quantidade de mão de obra para produzi-lo. 
Os resultados do estudo realizado por Bijl et al. (2007) mostraram que essa redução pode chegar a 29% menos mão de obra em propriedades que usam a VMS quanto comparo àquelas que usam o sistema convencional de ordenha.

Quanto a qualidade do leite produzido a VMS tem se mostrado eficiente, no entanto alguns cuidados devem ser tomados para se garantir um produto de alta qualidade.

Uma das vantagens da VMS é aumentar a frequência de ordenha, que, por sua vez, está relacionado com a redução da CCS no tanque além da redução do número de vacas apresentando aumento na CCS. Por outro lado, como a ordenhadeira funciona 24 h por dia mas não ordenha vacas 24 h por dia restos de leite podem ficar no equipamento por algum tempo e isso pode favorecer o crescimento de bactérias.

O tanque de resfriamento também tem que ser adequado para tal sistema, pois como cada ordenhadeira dessa ordenha de 50 a 60 vacas por dia e o baixo número de animais por hora pode tornar mais difícil manter a temperatura no tanque regular (toda hora leite "quente" será adicionado ao tanque).

Qualquer problema que o braço robô tenha em encontrar o teto também pode afetar a qualidade, pois se um teto deixar de ser ordenhado as chances do animal ter mastite aumenta.

O fato desse sistema fazer tudo sozinho é uma vantagem, quando se fala de mão de obra, mas aquele olhar do ordenhador também faz falta. O controle direto do aspecto do úbere e do leite torna mais difícil a identificação da mastite clínica, uma vez que o controle da saúde do úbere depende exclusivamente de dados de condutividade elétrica, temperatura e produção.  

Outro fator que pode ser crítico é a limpeza do teto antes da ordenha. Um ordenhador vai limpar o teto de acordo com a necessidade, afinal sempre tem aquela vaquinha no rebanho que adora deitar no lugar mais imundo (quem trabalha na ordenha sabe do eu estou falando rsrs) e a VMS trata toda vaca igualmente e não vai diferenciar entre a mais limpa e a mais suja, aumentando as chances dos patógenos se espalharem pelo rebanho.

Todos os fatores citados anteriormente são controláveis na ao meu ver, e independente do sistema de ordenhadeira usado, cuidados no manejo dos equipamentos são extremamente importantes.
Portanto, propriedades que utilizam a VMS, serão capazes sim de produzir leite de alta qualidade! Mas isso só acontecerá se as devidas precauções forem tomadas. 

Quando se fala de bem-estar animal, no entanto, a liberdade do animal em escolher a hora e a frequência de ordenha é um item bastante controverso, pois, ao mesmo tempo que dá ao animal maior controle sobre seu ambiente, pode deixá-la a mercê da competição
Ketelaar-Lauwere et al. (1996), por exemplo, afirmam que vacas menos dominantes são forçadas pela competição social ir para a ordenha durante a noite, o que significa que as vacas não tem total controle do ambiente nesses casos.

Mas então qual o melhor sistema, o tradicional ou a VMS?

O estudo de Hopster et al. (2002) comparou o sistema tradicional de ordenhadeira mecânica ao VMS quanto as respostas de estresse. Os resultados encontrados pelo autor foram bastante interessantes:


  • Não houve diferença no tempo de ordenha entre os sistemas.  
  • No entanto o tempo para se colocar as teteiras foi muito maior na VMS do que manualmente.
  • As vacas foram para a ordenha 3.0 + 0.19 vezes na VMS e no sistema tradicional foram ordenhadas 2 vezes.
  • Não houve diferença entre os sistemas para: 
    • A produção de leite diária
    • Gordura
    • Proteína
    • Lactose
    • Células Somáticas
    • Leite residual
Perante os resultados comportamentais e fisiológicos os autores afirmam que as vacas não estavam estressadas durante a ordenha em nenhum dos sistemas testados. No entanto, diferenças marginais quanto aos parâmetros fisiológicos e comportamentais favoreceram a VMS. 
Eles concluiram então que quanto ao bem-estar animal durante a ordenha tanto a ordenha tradicional quanto a VMS são aceitáveis.

Entretanto, a minha opinião, um ponto muito importante da VMS é acabar com as salas de espera. Dependendo do tamanho da ordenhadeira tradicional os animais passam um bom tempo em pé esperando para serem ordenhados. Já no caso da VMS é só a vaquinha levantar e fazer seu caminho até a ordenha, ser ordenhada (que não demora mais que 15 minutos) e voltar para a baia.

Fica ai um vídeo que mostra o funcionamento do Sistema Voluntário de Ordenha =D





Até mais!