quinta-feira, 11 de julho de 2013

Viés cognitivo como um método de avaliação da dor após a mochação a ferro quente

Ainda falando sobre os trabalhos apresentados no ISAE os próximos 2 tópicos vão discutir sobre um tema aparentemente complicado (mas na verdade nem tanto!) e de muito valor para a Ciência do Bem-Estar Animal.

Os trabalhos dos alunos Heather Neave e Ruan Daros serão apresentados em 2 postagens. 
Começaremos então pelo trabalho da Heather Neave, aluna de mestrado da UBC (University of British Columbia).

Desde já gostaria muito de agradecê-la por disponibilizar o material para a postagem aqui no blog e também parabenizá-la pelo excelente trabalho!

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As questões de bem-estar animal são normalmente baseadas na suposição de que animais podem vivenciar subjetivamente estados emocionais e podem, portanto, sofrer ou vivenciar prazer.

No entanto seria possível avaliar as emoções dos animais?

Essa é uma meta importante da pesquisa sobre o bem-estar dos animais, principalmente para aqueles destinados a produção, pois esses, muitas vezes, são considerados pela sociedade como seres incapazes de demonstrar emoções.
Porém, aqueles que convivem com animais de produção diariamente com certeza afirmarão o contrário.

Mas como demonstrar através da pesquisa que os animais podem sim demonstrar emoções?

O estudo dos estados emocionais nos animais tem tradicionalmente usado mensurações comportamentais e fisiológicas. No entanto, o viés cognitivo é uma técnica recente que baseia-se no componente cognitivo da emoção para compreender e avaliar objetivamente os estados emocionais em animais.

O viés cognitivo é definido como a influência da emoção na cognição e se baseia no conceito de que seres humanos deprimidos interpretam estímulos ambíguos negativamente.

Para exemplificar melhor o conceito pense em um copo de água:

Indivíduos positivos interpretam o copo de água como meio cheio e indivíduos negativos interpretam o copo como meio vazio.

Como se deve aplicar então o conceito do viés cognitivo aos animais?
Essa técnica nos possibilita fazer perguntas como:

"Como os animais se sentem quando...."
  • Enriquecimento ambiental é adicionado / removido
  • O ambiente das instalações é imprevisível ou agitado
  • É liberado de restrição
  • É isolado do parceiro social


Se espera que várias emoções surjam de cada uma dessas manipulações, no entanto, curiosamente, sem nenhum foco sobre a dor.

DOR é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real ou potencial.

Muitos procedimentos utilizados em fazendas envolvem dor, como é o caso da mochação, castração e corte de cauda.


Como a dor é um estado emocional claramente entendido, e seu componente emocional é importante também para os animais, estudar o viés cognitivo em relação a dor bastante interessante para se avaliar as emoções nos animais.

Esse foi, portanto, o objetivo do estudo da Heather:

Avaliar o efeito da mochação sobre o estado emocional de bezerros leiteiros na fase de dor pós-operatória.

Nesse intuito foram realizados 2 experimentos a fim de se responder as seguintes perguntas:

Experimento 1: Existe um viés cognitivo nesse caso?

Experimento 2: Se existe, o viés é somente um efeito do aprendizado?

A hipótese do estudo seria a de que os bezerros iriam apresentar um viés pessimista após a mochação, sem evidências de aprendizagem.

Foram utilizados 8 bezerros Holandeses, treinados a executar uma tarefa de discriminação visual, em cada experimento. 

TREINAMENTO

Metade dos animais foram treinados de forma que:


E para a outra metade as telas seriam:


O vídeo a seguir demonstra o treinamento aplicado aos animais:




Após esse treinamento os animais foram apresentados a telas com cores intermediárias. 


A aproximação dessas telas foi mensurada horas antes e depois da mochação nos 2 experimentos.

Todos os animais receberam sedativo e lidocaína antes da mochação em ambos os experimentos.

EXPERIMENTO 1

A mochação resulta em um viés de juízo negativo durante a dor no pós-operatório?

No experimento 1 os animais eram mochados (2 cornos) e avaliados segundo o teste descrito anteriormente.


RESULTADOS

EXPERIMENTO 2

O viés é devido aos bezerros aprenderem a não responder as telas ambíguas?

No segundo experimento a mochação e os testes eram feitos da seguinte forma, os animais eram testados antes e depois da mochação de um corno e após 4 dias eram testados antes e depois da mochação do corno remanescente, como mostra a figura a seguir. 


RESULTADOS




CONCLUSÕES

Bezerros responderam mais negativamente para estímulos visuais ambíguos após mochação a ferro quente.

O viés negativo não é devido à aprendizagem: bezerros voltaram ao valor inicial antes da segunda mochação.

A segunda mochação teve um forte viés negativo, indicando um efeito potencial de experiência anterior.


REFERÊNCIA

NEAVE, H. W.; VON KEYSERLINGK, M. A. G.; WEARY, D. M. Dairy calves show negative judgement bias following hot-iron disbudding. In: 47° Congress of the ISAE, 2013, Florianópolis: Anais do 47° Congress of the ISAE. p.87.


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