segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

NÃO BASTA DAR O PEIXE TEM QUE ENSINAR O POVO A PESCAR

O processo de Reforma Agrária no Brasil gerou diversas áreas de assentamento em todas as partes do território brasileiro. Essas áreas constituem principalmente de grandes fazendas desapropriadas que foram divididas em pequenos lotes distribuídos a agricultores que não possuíam terras. As atividades desenvolvidas nessas áreas é variada, porém a produção de leite é atividade bastante comum. Como os produtores normalmente são bem pequenos e o volume de leite é baixo normalmente eles se juntam a fim de conseguir melhores preços tanto no produto final quanto em insumos e é dai que surgiram diversas cooperativas no nosso país.

No entanto, um grande problema nessas áreas é a falta de tecnificação e instrução desses produtores, o que muitas vezes faz com que eles produzam muito menos que sua capacidade.

Segundo a Pesquisa Nacional de Educação na Reforma Agrária  - PNERA (BRASIL, 2005) 32,1% dos produtores assentados do país que não frequentam mais a escola não sabem ler nem escrever. A porcentagem de assentados no país que possuem Ensino Fundamental incompleto e completo  são respectivamente 53,2% e 57,4% e apenas 5,6% dos assentados do país possuem Ensino Médio completo.

Esse cenário adicionado a falta de assistência técnica são as grandes fontes de subdesenvolvimento nesses territórios. Na minha opinião dar a terra àqueles que não a tem não resolve o problema. Como diz o ditado popular: "Não basta dar o peixe, tem que ensinar o povo a pescar."

Acompanhando alguns projetos de extensão em assentamentos pude perceber que assim que começam a  receber assistência esses produtores já começam a melhorar suas propriedade tanto no quesito produção quanto em estrutura.

O que acontece muitas vezes é que esses produtores não sabem como fazer da forma correta. Muitos deles por exemplo, mesmo tendo o leite como a principal atividade desconhecem os parâmetros da IN 51 que normatiza regulamentos técnicos de produção, identidade e qualidade do leite (BRASIL, 2002). A previsão aqui no Brasil é que se pague por qualidade e se esses produtores não tiverem ajuda de alguma forma dificilmente se encaixarão nas normas exigidas na legislação.

É muito importante que esses pequenos produtores recebam assistência, o problema é que esse processo é complicado e lento e muitas vezes esse tipo de projeto não recebe muito apoio do governo e esses produtores não tem condições de pagar o preço por uma assistência privada.

Outro fator que dificulta o trabalho é que muitos desses produtores já estão calejados por serem enganados. O que acontece no campo, e ai eu falo por experiência própria, é que quando você chega nessas propriedades querendo ajudar, eles sempre ficam com um pé atrás no início e muitos deles confessam, com o tempo, que estão cansados de acreditar naqueles que oferecem ajuda, pois muitos só querem empurrar produtos, muitas vezes ditos milagrosos, a esses produtores, que, como já dito antes, tem baixa escolaridade. E ai depois de receberem várias informações incorretas e gastar o tão suado dinheiro naquela esperança de melhorar e muitas vezes não verem resultado, quando chega um projeto que realmente te por objetivo ajudá-los eles não querem mais. Isso é triste!

Porém acredito que projetos como esse são de extrema importância pois a produção de leite em sua grande parte vem desses produtores e garantir que eles tirem leite com qualidade e de forma eficiente impulsiona a cadeia leiteira adiante. Conheço diversos projetos que tiveram sucesso e muitos mais deviam ser criados!

E eu diria mais, além de projetos de assistência, é muito importante que projetos sejam desenvolvidos a fim de levar a educação a essas áreas. Projetos como alfabetização de adultos, implantação de escolas e transportes públicos de qualidade, e cursos voltados a tecnificação da família, já que em muitas dessas propriedades são familiares.

Eu gosto muito da forma como o SENAR leva a informação ao campo, com cursos práticos que ensinam os produtores e suas famílias a aproveitarem ao máximo suas terras e acho que são instituições assim que trazem desenvolvimento ao campo.

Como sempre, aqui no Brasil, esbarramos na educação como a base dos problemas sociais.
O dia que todos tiverem acesso a ela teremos um país muito melhor


Abraço

Até o próximo post.






Referências:

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Pesquisa Nacional da Educação na Reforma Agrária – PNERA. Brasília, 2005.


EMBRAPA. Produção de leite com qualidade em projeto de assentamento: A intervenção como inovação. Juiz de Fora: EMBRAPA GADO DE LEITE, 2008.


BRASIL. Instrução Normativa 51 - Ministéria Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA. Brasília, 2002


Um comentário:

  1. Oi Cristiane, muito boa a matéria!!
    Concordo com vc, não basta mais chegar oferecendo soluções milagrosas e pouco práticas, é necessária muita sensibilidade do extensionista, que pode SIM fazer a diferença e agregar educação e qualidade em sua assistência! Por isso também gosto da forma do SENAR trabalhar!
    Cabe a cada um compreender e assumir a responsabilidade de seu trabalho e fazer sua parte, e isso não tem curso que ensine!

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